Flávia Bemfica
Direto de Porto Alegre
O senador Pedro Simon, presidente do PMDB no Rio Grande do Sul, foi uma das primeiras lideranças a protestar contra a decisão da executiva nacional do partido que na terça-feira (18) aprovou a indicação do nome do presidente nacional do PMDB e presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, para vice na chapa encabeçada por Dilma Rousseff (PT) na disputa presidencial.
Simon disse que o PMDB gaúcho seguirá defendendo a candidatura própria e considera sem validade a decisão da executiva. Segundo o senador, a definição sobre uma composição nacional com o PT cabe à convenção e as instâncias partidárias precisam ser respeitadas. Simon reconhece, contudo, a fragilidade da tese da candidatura própria. Sabe que entre as lideranças gaúchas do PMDB a indicação da executiva nacional também repercutiu.
De público, o PMDB do Rio Grande do Sul mantém o discurso único da candidatura própria. Mas são vários os peemedebistas gaúchos que consideram bastante "agradável" a opção que se encaminha dentro do partido, de "liberar com ressalvas" os estados, de forma que, se não fizerem propaganda para Dilma, também não a façam para a chapa oposta, que tem à frente o tucano José Serra.
Internamente, os gaúchos já reclamam da postura do ex-governador do Paraná, Roberto Requião, nome que eles apoiam para ser o candidato do partido à presidência. Estão cientes de que Requião será candidato ao Senado, mas avaliam que o ex-governador poderia pelo menos fazer movimentos mais concretos em direção a uma candidatura nacional, como seria esperado de alguém que busca visibilidade fora de seu Estado.
Apesar de publicamente o PMDB do Rio Grande do Sul continuar a falar em Requião e de não se constituir na maior das preocupações da cúpula nacional, que apaga incêndios em vários outros estados, os gaúchos podem incomodar na convenção, na qual detêm 52 votos. Segundo Simon, nada impede que apresentem uma moção pela candidatura própria.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida pelo senador ao Terra.
Terra - A decisão da executiva nacional do PMDB, de aprovar na terça-feira (18) o nome do deputado Michel Temer para vice de Dilma Rousseff (PT), adianta a decisão da convenção nacional do partido, prevista para 12 de junho?
Simon - Nós no Rio Grande continuamos com a tese da candidatura própria (à presidência da República). A decisão da executiva não teve nenhum significado. Foi uma decisão política para badalar o nome do Temer. A executiva tem é que presidir o partido, não cabe a ela fazer essa indicação.
Terra - Mas, com a indicação, o nome do deputado Temer fica fortalecido, e a possibilidade de aliança nacional com o PT também. Ou não?
Simon - Não sei e nem poderia responder a essa questão. Não faço parte da executiva nacional. O objetivo claro foi o fortalecimento da candidatura do nosso presidente. Mas não sei se resolveu alguma coisa. Embora eu reconheça que a nossa candidatura própria é muito difícil de acontecer.
Terra - Por que, se existem resistências à coligação com o PT em tantos estados?
Simon - Porque a máquina do partido, que é representada pelos que estão no governo, está toda ela a favor da candidatura dele (Temer) a vice. A decisão da executiva do PMDB não tem nenhum significado. O significado é que o governo não quer que o PMDB tenha candidato próprio.
Terra - O deputado Temer informou, logo após a reunião da executiva que aprovou a indicação de seu nome para vice de Dilma, que deve começar a viajar pelo país, e acompanhar a pré-candidata em alguns roteiros.
Simon - Não sei se ele vai aparecer no Rio Grande. Se aparecer, será recebido com a simpatia que nos caracteriza.
Terra - O senhor avalia que o PMDB vai conseguir resolver as dissidências nos estados?
Simon - Não entendo mais nada. Só sei que eles têm a máquina na mão. Em São Paulo a maioria quer acordo com o Serra. Em Pernambuco, a mesma coisa. Paraná quer candidatura própria. Santa Catarina é própria ou Serra.
Terra - O PMDB gaúcho tem 52 votos na convenção. São 52 a favor da candidatura própria?
Simon - Nada impede que o PMDB do Rio Grande do Sul entre com uma moção indicando um candidato próprio.
